TRÊS E VINTE E SETE
Boa noite.
Bom dia, aliás.
Olha só.
A confusão já começa aí.
Nem sei o que dizer quando a gente se encontra.
Diariamente.
Se é que assim podemos chamar.
Encontro.
Provavelmente você tá comigo o tempo todo.
Indelével.
E eu nem sei quem é.
Ou o que é.
Mas sei que o senso de oportunidade tá daquele jeito.
Bora acertar isso aí.
Desculpa a intimidade.
É que você me parece eu.
Exceto pelo hábito de me acordar às três e vinte e sete.
Diariamente.
Isso não sou eu.
Definitivamente.
Acordo cedo.
Francamente.
Os assuntos também.
Nem sempre se parecem comigo.
Anteontem foi uma amiga.
Muito querida, por sinal.
Mas que já não conversa comigo.
Desde que morreu, se não me engano.
Hoje foi um médico desconhecido.
Com muito prazer em assassinar meu pai.
Isso lá é jeito de acordar as pessoas?
Sou publicitário, cara.
Ou coisa.
Ou ambos.
Traz uma ideia genial de vez em quando.
Seis números certeiros seriam de grande ajuda também.
Foca na mega da virada e tá tudo certo.
Mas façamos justiça.
Aquela moça de domingo passado não foi mal.
A melodia de sexta-feira era linda.
Melhor se eu fosse músico, mas fez bem.
O texto de hoje valeu pelo delicioso compromisso semanal.
Pensando bem, tá com crédito.
Temos mais moças e melodias do que médicos parricidas.
Vamos só ver melhor essa coisa da hora.
Exceto se trouxer as seis dezenas.
Aí pode ser às três e vinte e sete.
Ou será que já temos aí metade?
Ok.
Pode ficar, vai.
Ainda preciso de mais três.
Ainda preciso de mais três.

No comments: