QUANTO TEMPO



- Que é isso, Paulo?
- Adivinhou! Pipoca com leite condensado e toddy.
- Não quero!
- Nem o pula-pula com piscina de bolinhas?
- Não.
- Mas do pogobol você ainda gosta.
- Claro que não!
- Mas você era a melhor.
- 25 anos atrás.
- Então deve estar melhor ainda.
- Eu cresci, Paulo.
- Eu também.
- Eu te liguei por que minha vida tá uma merda, Paulo.
- Por isso a pipoca com leite condensado e toddy.
- Vou embora.
- Pra onde?
- Pro mundo real.
- Onde seu marido trabalha demais.
- Isso.
- Onde seus filhos não dão a mínima.
- Exato.
- Lá onde seu emprego tá uma merda.
- Ok, já deu.
- Espera. Eu tava pensando em ir com você lá pra rua.
- Só pode estar louco.
- Chuvinha, chinelo, dedão esfolado, pátio do prédio.
- Já foi. Tenho 35!
- Já fomos. Temos 35.
- Justamente, passou.
- Quem disse?
- Eu digo.
- Jura? Rápido assim?
- Verdade. Nem vi.
- Se não viu, quem garante que passou?
- Que papo hein?
- Vamos lá. Não custa nada e é rápido como vir parar aqui nos 35.
- Paulo, você não entende...
- Entendo. Que você era a mais corajosa. Que você era a mais linda. Que me defendia. Que defendia seus irmãos. Que não merecia um marido indiferente. Que reconquistaria seus filhos. Que mandaria o seu patrão à merda. Que tinha talento para montar sua própria empresa.
- Por favor...
- Vem, Maria.
- Não faz assim...
- Me dá a mão. A gente vai de pogobol até no pula-pula. Lá, agente pula 5 vezes até sumir na piscina de bolinha e, rápido como falar seu nome arrotando, estaremos de volta. É o tempo de eu apresentar você pra quem você realmente é.
- Tá bom, vai. Me dá a mão.
- Pronta?
- Calma. A gente pode levar pipoca com leite condensado e toddy pra viagem?
- Viu com foi rápido?

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