PRA PELE

Tudo lindo.

Este é o meu bom dia.

Nada contra um bom dia.

É que o dia bom é só bom, né?

Prefiro tudo lindo.

Não sou nenhum sonhador.

Sou um otimista assumido.

E, pra melhorar, tenho o benefício da amnésia.

Amnésia seletiva, o que é melhor.

Esqueço das coisas ruins.

Só delas.

As boas não.

Guardo pra depois.

Como uma sobremesa.

Das boas.

De se lambuzar sem culpa.

De vez em quando vou lá, furtivamente.

Me delicio sem que ninguém veja.

Às vezes insistem em colocar feijão no pote da sobremesa.

Para que meus pés ganhem peso.

Para que eu me lembre da gravidade.

Gravidade que o chão esconde.

Pessimistas ou realistas.

Mas, sobretudo, inocentes.

Não conhecem meu segredo.

Sempre tenho mais sobremesa.

À vista de ninguém, no coração.

Escondida pra quem quiser ver, no sorriso.

É só ver um copo cheio de sobremesa até a metade.

Aliás, só olhar um copo cheio de sobremesa até a metade.

Porque, como diria uma tatuagem futura.

De meio vazio a vida tá cheia.

E eu só desejo um bom dia.

Aliás, tudo lindo procê!