MENOS UM



Ganhou na loteria.
Sentiu-se importante.
Decidiu que não queria dividir o prêmio.
Não com todo mundo.
Só com quem merecesse muito.
Morreria então.
Teria direito à sua amizade quem chorasse por 6 meses.
No mínimo.
Avaliaria pelas redes.
Quem deu like e quem deu dislike.
Nesse caso, #PartiuMorrer.
Um terreno em Jaburaçu do Norte, um carro caro, um computador com internet e perna pra quem tem.
200 km pra dentro do nada em busca da sua da verdade de rico.
Morreu.
Dado como morto é morto também.
Dali, começou a avaliar geral.
Todo e qualquer comentário no face.
Que não contemplava Rita.
Que choraria mais de 6 meses.
E que não tinha face.
Só fáce.
As pessoas choraram, enfim
Só pararam rápido demais.
Todas, absolutamente todas, desmerecedoras dele.
Entristeceu-se, mas alegrou-se também.
Fortuna indivisível.
Amigos novos seriam feitos dali em diante.
A ressureição seria anunciada.
Seria.
Não foi.
Pegou o carro.
Deu ré.
Caiu no rio.
O carro acabou.
Ele, quase.
Arrastou-se pra casa.
Machucado demais.
E era Jaburaçu do Norte.
200 Km pra dentro do nada.
Ninguém vivia ali.
Só quem queria avaliar as amizades.
Carro e computador no rio.
Morreria de verdade, afinal.
Cercado de todos que eram merecedores.
Ninguém.
Todos, menos Rita.
Que ainda chora.
Matemática simples.
Nada menos um:
Menos um.

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