COSTUME



Almoçava tranquilamente.
O de sempre, às quartas.
Salmão, purê de batatas e umas folhas.
Sete ou oito mesas ocupadas.
Pouca gente, mas normal para o horário.
O relógio marcava 13h33.
Às 13h34...
BUM, mas BUM MESMO!
Ensurdecedor.
Amedrontador mesmo.
Principalmente nestes tempos.
Onde EI não tem relação com OI.
Enfim, instaurou-se o caos.
Funcionários o clientes para fora.
Vizinhos vinham às janelas.
Carros chegavam a reduzir a velocidade.
Juro: até um cachorro veio cheirar a situação.
Ele era o ponto fora da curva.
Tranquilo, não sem uma taquicardia rápida.
Mas lembrou de tomar o remédio naquela manhã.
Providencial.
Funcionário antigo do restaurante.
Muito antigo na vida também.
O Barulho continuava.
O cheiro, muito forte, se espalhava.
O rapaz do caixa, incrédulo, notou.
O rapaz do caixa, incrédulo, perguntou.
- Vai ficar aí?
- Vou.
- Não vai ajudar?
- Vou.
- Então levanta!
- 5 minutos.
5 minutos, foi o que ele disse.
As pessoas voltaram para os seus lugares.
Alguns voltaram aos seus pratos pela metade.
Outros pediram a conta.
Não sem antes tomar aquele cafezinho.
A vida, enfim, voltou ao normal.
O rapaz do caixa, incrédulo, perguntou.
- O que você fez?
- O mesmo que você, todo dia.
- Como assim?
- Você sabe. Aquilo que você faz quando vê um mendigo na rua.
- Agora embaralhou foi tudo.
- Eu não fiz nada. Como todo mundo, me acostumei.
- Acostumou?
- Cala a boca. Escute.
O barulho continuava.
Talvez ainda mais forte do que antes.
Mas ele sabia, velho de casa que era.
Em 5 minutos, no máximo.
Ninguém mais ia se incomodar.
Todo mundo preferia almoçar, afinal.
Engolir.
A gente se acostumou com gente na rua.
Um BUM.
Mesmo que seja um BUM MESMO.
Perto disso, é silêncio.
Agora come.
De boca fechada.

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